27.11.10

Antes de deixar esta terra



Buenos Aires

Y la ciudad, ahora, es como un plano
De mis humillaciones y fracasos;
Desde esa puerta he visto los ocasos
Y ante ese mármol he aguardado en vano.
Aquí el incierto ayer y el hoy distinto
Me han deparado los comunes casos
De toda suerte humana; aquí mis pasos
Urden su incalculable laberinto.
Aquí la tarde cenicienta espera
El fruto que le debe la mañana;
Aquí mi sombra en la no menos vana
Sombra final se perderá, ligera.
No nos une el amor sino el espanto;
Será por eso que la quiero tanto.

Jorge Luís Borges

Poema em audio: «Buenos Aires» de Jorge Luis Borges (dito pelo próprio)
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26.11.10

Ainda por montes e lagos


Mais uma espécie de bilhete postal.

Andei hoje, e continuarei amanhã, à volta do Monte Tronador e dos seus glaciares, na fronteira da Argentina com o Chile - deu mesmo para ouvir e ver quebras e desmoronamentos de gelo. Será perto dele que passarei para este segundo país, numa complicada etapa de estradas e lagos, autocarros e barcos.

Saio deste lado da Patagónia sem ter visto carneiros, celebérrimos pelas suas excelentes lãs, tão cobiçadas que só a Benetton comprou por aqui um milhão de hectares para os criar (e depois colorir, suponho). Deve ser isto a globalização...

No vídeo, San Martin de los Andes, onde aterrei anteontem.


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25.11.10

Ver para crer


Só dois ou três apontamentos que o tempo é escasso.

Claro que Bariloche faz lembrar a Suíça, pelos montes e lagos, e também pelas casas até porque foram suíços e alemães que construíram o que agora existe.

Mas quando voltar a ouvir dizer que esta terra é a Suíça da América Latina, defenderei que é a segunda que é a Bariloche da Europa, a tal ponto isto deixa a anos de luz o que se vê nos Alpes.

Ver para crer, de facto, na beleza desta parte da Patagónia, sobretudo por um conjunto de lagos inigualável em número, variedade, conjugação com montanhas e vegetação e de um azul absolutamente do outro mundo!

Tomar nota para não falhar: a vista, de 360 graus, do cimo do Cerro Campanario - já "pagou" a viagem... que ainda nem vai a meio.
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Sempre nesta data

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A vingança também se serve quente


A discussão começou ao pequeno almoço, com três (em cinco) elementos do meu grupo viajante militantemente anti-qualquer tipo de greve.

Mas a minha "vingança" veio logo pouco depois, no aeroporto, quando verificámos que a compamhia de aviação que devia trazer-nos de Buenos Aires para Bariloche ... estava em greve!

Vários quilómetros depois, a empurrar carrinhos com mala ou em filas espera inúteis, conseguimos comprar os últimos lugares disponíveis numa outra companhia aérea.

Em dia de greve em Portugal, mais esta peripécia em aeroportos - e tenho tido tantas, mas tantas -, e os 200 euros que e custou o novo voo, acabaram por saber a solidariedade over the oceans...

P.S. - Falta dizer que aterrámos a 260 quilómetros do nosso destino, o que deu direito a longa viagem de minibus. Para quem já tinha ido de Lisboa ao Porto de carro para conseguir chegar a Madrid, por causa da Cimeira da NATO, não está mau... Mas fez-se bem porque o percurso era lindo de morrer!
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23.11.10

Nas bocas do mundo...


… e pelas piores razões: longas notícias sobre Portugal, hoje, nos jornais argentinos (por uma vez, não se fala apenas do Mourinho e do Ronaldo...).

Alguns excertos de La Nación (sem link):

«Depois da confirmação do resgate da Irlanda, os mercados perguntam-se se chegou o momento de ajudar Portugal e, a longo prazo, a Espanha ou a Itália.»
«O deficit português não conseguiu, até ao momento, mostrar uma clara melhoria em 2010, especialmente em comparação com outros países da periferia da zona euro como Grécia, Irlanda ou até Espanha.»
«É difícil ver o que poderia salvar Portugal. Um voto a favor do orçamento não acalmará as coisas. Quanto mais tempo durarem as pressões do mercado, mais crescem as probabilidades de que Portugal tenha de pedir algum tipo de ajuda.»

Também grande relevo dado à greve geral de amanhã - mais necessária e oportuna do que nunca. Não é verdade que tudo seja inevitável ou impossível. O dia 24 de Novembro de 2010 pode marcar o início de uma nova etapa de solidariedade e de democracia.
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Relíquias


El Ateneo, uma das livrarias mais belas e mais espectaculares do mundo, no centro de Buenos Aires. Antigo teatro construído em 1919, onde actuou Carlos Gardel e se pode hoje ler calmamente numa frisa e lanchar magnificamente no palco. Cinco estrelas. Um perigo para compradores compulsivos de livros.




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Amanhã


Obviamente!
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22.11.10

Optimismo intercontinental


Com pouco tempo para ler notícias, percebo no entanto que os espíritos andam cada vez mais cinzentos e que o fantasma do FMI se aproxima na opinião de quase todos, com a Irlanda por aí tão perto. (Quase todos, claro, porque o nosso PM continua inabalavelmente esperançoso e confiante.)

A distância torna-me optimista: estou num país que viveu uma crise colossal há apenas dez anos, que teve por cá o dito FMI, sofreu muito mas não desapareceu do mapa. Pelo contrário: é hoje próspero (embora não tanto como poderia, segundo leio), Buenos Aires tem uma enorme vitalidade e deixa Lisboa a quilómetros de distância em termos de qualidade urbana. Puerto Madero (antigas docas) cresceu muito nos últimos anos, tem agora três quilómetros de restaurantes e habitações de luxo, uma marina, hotéis dos melhores arquitectos do mundo – claros sinais exteriores de riqueza, portanto, e de saída da fatídica «crise».

Claro que os condicionalismos são diferentes, aqui não havia pelo meio o complicómetro de Bruxelas nem os interesses da senhora Merkel, mas existiam outros problemas bem graves.

Quero dizer com isto que desejo a entrada do FMI? Não: apenas lembrar que o mundo não vai acabar por aí amanhã, sem FMI ou com ele, embora se tenha um pouco a sensação contrária quando, a distância, se dá uma volta pelas gordas dos jornais e por alguma blogosfera…

(Foto: Puerto Madero, onde vou agora jantar…)
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Inevitável mesmo






Manhã de um feriado en La Boca - Caminito.
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Verão e Jacarandás


Um domingo esplendoroso em Buenos Aires, depois de uma longa viagem excepcionalmente descansativa: 13 horas é muito tempo e, desta vez, deu para dormir muito mais do que em casa. Nem sempre acontece, mas ontem foi assim.

O prazer de regressar a uma cidade já conhecida, sem a obrigação de revisitar locais «incontornáveis», sem programa pré-definido, confirmar que se trata de um dos tais poucos sítios em que não me importava mesmo nada de ficar sem retorno à origem, verificar que tudo cresceu veritiginosamente nos últimos sete anos. Até as velhas avenidas parecem mais largas, as árvores – uma das grandes relíquias desta enorme cidade – multiplicaram-se, há jardins e parques em tudo o que é bairro.

Hoje, foi mesmo retomar contacto. Primeiro o reencontro com a 9 de Julho e a Praça de Maio, também com a Florida, depois o mercado de S.Telmo e o tango na rua, fim de tarde em Puerto Madero.

Amanhã há mais, logo se verá quando e o quê. E não, não tenho saudades da querida pátria...

Last but not the least: tudo aqui é muuuuito mais barato do que por essas bandas!
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